Neste sábado (5), o Crescente Vermelho Palestino divulgou um vídeo que contesta a versão oficial do Exército de Israel sobre um ataque ocorrido em 23 de março, que resultou na morte de 15 socorristas na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. A gravação, resgatada do celular de um dos paramédicos mortos, mostra ambulâncias com faróis e luzes de emergência acesas — contradizendo a alegação israelense de que os veículos atacados eram “suspeitos” e estavam com as luzes apagadas.
Segundo as autoridades israelenses, os disparos foram direcionados a “terroristas” que se aproximavam em veículos não autorizados. Um porta-voz militar, o tenente-coronel Nadav Shoshani, afirmou que os alvos não tinham permissão de entrada e trafegavam sem iluminação, o que justificaria a ação.
No entanto, as imagens obtidas pela AFP e confirmadas pelo Crescente Vermelho Palestino desmentem essa narrativa. “O vídeo refuta categoricamente as alegações da ocupação de que os veículos não estavam identificados ou iluminados. Essas imagens mostram a verdade”, declarou a instituição.
Com 6 minutos e 42 segundos de duração, a filmagem exibe ambulâncias e um caminhão de bombeiros circulando à noite em Gaza. Os veículos param à beira da estrada, dois socorristas descem e, em seguida, um intenso tiroteio é registrado. Vozes de dois paramédicos podem ser ouvidas: “Parece um acidente”, diz um. Logo após, uma sequência de disparos apaga a imagem.
O vídeo termina de forma trágica: o socorrista que filma recita a “shahada”, a profissão de fé muçulmana, enquanto o tiroteio continua. Em um momento de desespero, ele diz: “Perdoem-me, rapazes. Perdoe-me, mãe, por ter escolhido este caminho”. Em seguida, ele sussurra: “Os judeus estão chegando”, referindo-se aos soldados israelenses. Uma voz em hebraico pode ser ouvida logo depois: “Espere, estamos chegando. Nós não somos responsáveis, vocês são”.
De acordo com o vice-presidente do Crescente Vermelho, Marwan Jilani, o celular com o vídeo foi recuperado junto ao corpo de Rifaat Radwan, um dos socorristas mortos. Entre as vítimas estão oito membros do Crescente Vermelho, seis agentes da defesa civil de Gaza e um funcionário da UNRWA (agência da ONU para refugiados palestinos). Os corpos foram enterrados em uma vala comum próxima a Rafah, conforme informou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
A divulgação do vídeo gerou forte reação internacional. O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, declarou estar “horrorizado” com a morte dos trabalhadores humanitários, levantando suspeitas de um possível crime de guerra.
Segundo Jonathan Whittall, diretor do OCHA nos territórios palestinos, as vítimas foram encontradas com uniformes completos e ainda usando luvas. Um oficial israelense alegou que os corpos foram cobertos com areia e lençóis “para evitar a deterioração”, enquanto aguardavam resgate.
A guerra em Gaza teve início em 7 de outubro de 2023, após o ataque do grupo Hamas contra o sul de Israel. Em resposta à divulgação do vídeo, o movimento islâmico palestino afirmou que o ataque e o sepultamento das vítimas em valas comuns demonstram uma tentativa de ocultar o crime e silenciar a verdade.
Este vídeo foi descoberto no celular de um paramédico encontrado junto com outros 14 socorristas em uma vala comum em Gaza. Eles foram covardemente massacrados por Israel e enterrados como indigentes. A Cruz Vermelha forneceu o vídeo ao Conselho de Segurança da ONU esta semana: