A investigação sobre a Conafer (entidade que mais aumentou o volume de descontos em benefícios do INSS de 2019 até 2024.
Uma testemunha-chave afirma que essa organização adulterou documentos para retirar dinheiro de aposentados.
O depoimento aconteceu dia 10 de junho de 2021 na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor. O empresário de Brasília Bruno Deitos afirmou que a sua empresa, Premier Recursos Humanos, “foi contratada de forma terceirizada pela empresa Target Pesquisas de mercado, que havia sido encontrada pela Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer) para fazer um serviço de atualização de cadastro de associados.
Bruno, empresário ligado à empresa Premier, afirmou que sua companhia havia sido contratada para atuar em seis estados brasileiros — Distrito Federal, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Segundo ele, a Premier recebeu da Conafer uma listagem de associados e tinha como função recrutar promotores de pesquisa para visitar pessoalmente os endereços indicados. A missão desses profissionais era coletar assinaturas em formulários destinados à exclusão de mensalidades, desvinculação da associação e registro de ausência ou mudança de endereço.
No entanto, de acordo com Bruno, durante uma reunião, Randel — apontado como proprietário da empresa Target — teria afirmado que o verdadeiro interesse era unicamente a coleta das assinaturas. Randel teria revelado que contrataria uma empresa especializada em adulteração de documentos PDF para transformar os formulários de exclusão em formulários de adesão.
Empresário diz à polícia que foi ameaçado por irmão de presidente da Conafer e revela suposto esquema de influência no INSS
Em depoimento à polícia, o empresário Bruno relatou que, após executar os serviços contratados, não recebeu o pagamento integral acordado com a Conafer. Ao cobrar a quantia devida, disse ter sido ameaçado por Tiago Ferreira Lopes, irmão de Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da entidade. Tiago aparece em fotos ao lado do irmão e já foi condenado por improbidade administrativa, enriquecimento ilícito e dano ao patrimônio público.
Em um segundo depoimento, prestado no dia 11 de junho de 2021, Bruno voltou a relatar ameaças e trouxe novas informações à investigação. Segundo ele, em uma reunião, o presidente da Conafer teria afirmado que exercia influência sobre diretores do INSS. Embora não tenha mencionado nomes, Carlos Roberto teria dito que o “domínio” sobre esses diretores se daria por meio de repasse de vantagens financeiras. O objetivo, segundo Bruno, seria alterar dados no sistema do INSS e obter informações sigilosas de aposentados e pensionistas.
Bruno também informou à polícia que possuía, em arquivo digital, cerca de 28,7 mil fichas com assinaturas coletadas durante a execução do serviço.
Esquema denunciado em 2021 só teve desdobramentos em 2025 e resultou na queda de ministro e presidente do INSS
A Polícia Civil do Distrito Federal encaminhou à Polícia Federal, ainda em 2021, todas as informações reunidas sobre o esquema fraudulento envolvendo a Conafer. Os documentos enviados integram o inquérito que apura as irregularidades.
Apesar das denúncias terem sido formalizadas há quase quatro anos, a operação para desarticular o esquema só foi deflagrada em abril de 2025. A ação teve repercussões de alto escalão e culminou na queda do então ministro da Previdência e do presidente do INSS.
A Conafer declarou que está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.