Ong descobre campos de concentração no México

Grupo que busca desaparecidos no México descobre possível campo de extermínio

As autoridades mexicanas investigam a descoberta de fornos crematórios, restos humanos e centenas de objetos pessoais em um rancho abandonado nos arredores de Guadalajara, no estado de Jalisco.

A descoberta foi feita por um grupo de voluntários que procurava familiares desaparecidos e recebeu uma denúncia sobre uma possível vala comum na região de La Estanzuela, uma pequena cidade rural próxima a Guadalajara. No local, encontraram três fornos crematórios subterrâneos, fragmentos de ossos carbonizados, centenas de sapatos, roupas e itens pessoais descartados — além de imagens de Santa Muerte.

A cena, descrita como um “campo de extermínio” pelos voluntários do grupo Guerreros Buscadores de Jalisco, chocou o país. Fotografias feitas no local mostram mais de 200 sapatos empilhados, mochilas, roupas íntimas, cadernos escolares e outros pertences — um indicativo do número potencial de vítimas.

As autoridades informaram que também foram localizados 96 cartuchos de diferentes calibres e anéis de retenção metálicos. Até o momento, nenhum dos restos foi identificado, e não se sabe quantas pessoas foram mortas ali, quem operava o local ou há quanto tempo funcionava.

A Procuradoria-Geral da República assumiu a investigação, após solicitação da presidente Claudia Sheinbaum. Especialistas apontam que a descoberta expõe novamente a dimensão da crise de violência no país. “O número de vítimas pode ser imenso”, afirmou o analista de segurança Eduardo Guerrero. “É um pesadelo que revive o que o México tenta esquecer.”

Desde 1962, mais de 120 mil pessoas desapareceram no México, segundo dados oficiais — número que pode ser ainda maior, segundo organizações de direitos humanos.

A descoberta ocorre em um momento delicado para o governo de Sheinbaum, que enfrenta pressão do ex-presidente Donald Trump para combater o crime organizado e evitar sanções comerciais. Em resposta, a presidente adotou uma postura mais rigorosa contra o narcotráfico do que seu antecessor, embora enfrente obstáculos diante do poder das organizações criminosas.

Entre essas organizações está o Cartel de Jalisco Nova Geração, um dos mais violentos do país. O grupo domina o tráfico de drogas sintéticas como fentanil e metanfetamina, e atua também em extorsão, tráfico de pessoas e extração ilegal de madeira. A polícia suspeita que o cartel seja o responsável pelo rancho onde os corpos foram encontrados.

Indira Navarro, líder dos Guerreros Buscadores, afirmou à imprensa que o local também era usado para treinar jovens recrutados através de falsas ofertas de emprego divulgadas nas redes sociais. Segundo relatos, os recém-chegados eram levados da rodoviária de Guadalajara diretamente para o rancho, onde aprendiam a usar armas e a torturar. Alguns teriam sido forçados a queimar corpos como parte do “treinamento”. Aqueles que se recusavam, segundo Navarro, eram mortos e jogados para animais selvagens.

“Isso não é um filme de terror — é a nossa realidade, e o mundo precisa saber”, disse Navarro, cujo irmão desapareceu há nove anos.

O New York Times, que publicou a reportagem original, não conseguiu verificar de forma independente os depoimentos recebidos pelo grupo.

Curiosamente, as autoridades já conheciam o rancho desde setembro do ano passado, quando encontraram armas, cartuchos e fragmentos de ossos, além de dois sequestrados que foram resgatados. Um corpo enrolado em plástico também foi encontrado. Ainda assim, segundo o promotor Salvador González, a fazenda não foi totalmente investigada à época por conta da sua grande extensão.

Durante entrevista coletiva, a presidente Sheinbaum afirmou que há indícios de omissão por parte das autoridades locais e estaduais, e que a investigação agora está sob responsabilidade federal. O procurador Alejandro Gertz Manero declarou que é difícil acreditar que um local como esse tenha operado sem o conhecimento de autoridades regionais.

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